sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O mar é calmo.





Assim como o mar, a gravidez tem suas tempestades, suas correntezas e ventos fortes que não sabemos de onde vem. Eles fazem você vomitar gritos. Depois, carregam tudo com eles e vão embora. Vez ou outra resolvem voltar, mas seu corpo já os conhece. Seu barco vai ganhando pedaços novos de madeira, fortalecendo-se pouco a pouco. De repente, as tempestades não entram mais dentro de você.
Às vezes é difícil lembrar que o mar é calmo. Gerar uma pessoa é isso. É amar, é chorar, é odiar, é rir, é oscilar, é enxergar, é sentir. Precisamos ter consciência que tempestades vão e vem, e, ao final, tudo volta a ser como era antes: brisas e calmarias.
Na gestação de Caetano, acredito ter chorado todos os dias. Se um soldadinho de chumbo morresse, eu chorava junto com a minha alma. Tudo em sua volta é muito profundo, muito intenso (você está muito íntima). Aprendemos no obstetra todos os cuidados para deixar nosso bebê forte e saudável: reeducamos nossa alimentação, nossos hábitos, movimentamos o corpo, sentimos dor, fazemos fisioterapias. Outra coisa que aprendemos é que tudo o que nós sentimos, eles sentem junto. Com isso na cabeça e mais alguns quilos de culpa pelas lágrimas incontroláveis e sentimentos ruins, uma mãe me disse: “Gi, minha gestação foi um caos. Eu chorei muito, me estressei muito, senti muita raiva, etc, etc.. Por isso que meu filho é assim. Acho que ele é hiperativo. Ele chora bastante, grita com a gente, faz birra.. Tente sempre ficar calma pro seu bebê ser calmo também.” Os quilos viraram toneladas. Fiquei me culpando pelo futuro catastrófico do menino que ainda nem nascera. Nada como a doce voz de Manu me confortando: dia de terapia. Com seus estudos e mais alguns meses de experiência com o pequeno Vinícius, ela esclarece: nossos filhos devem sentir sim tudo o que sentimos. Seja ódio, raiva, tristeza, amor, paixão, alegria. Não podemos gerar pessoas e achar que por isso, devemos mentir sobre o que sentimos para que elas sejam felizes. Dessa forma, o que estamos gerando também é uma mentira. Queremos que nossos frutos estejam preparados para um mundo real, de carne e osso, e, por isso, não devemos esconder nada deles. Eles devem sim saber o que é o ódio, o que é chorar. E não é à toa que eles choram, sorriem, chupam dedo e chutam nossas barrigas.
Devemos respeitar nosso corpo e o que está dentro dele. Ainda não sabemos a dimensão, se é que ela existe, do amor que estamos gerando, mas precisamos lembrar que tempestades fazem parte da nossa vida e nos acrescentam espírito.

2 comentários:

  1. Amiga, você escreve/tá escrevendo muito bem! Tô muito feliz com essa ideia do blog, continua sempre. Ouvir o que tu tem pra dizer é sempre bom! És uma pessoa especial na vida de todo mundo que te ama, assim como Caetano já é também, até mesmo antes de nascer, quando a ficha caiu pra todo mundo, ele já era o nosso amor lindo. Não poderia ser diferente!

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  2. "Ela é muito linda, virou uma mulher, um mãe, faz tudo certo"

    Por mais que digam que as mulheres desenvolvem essas faculdades maternas a partir do momento que engravidam, acredito que haja, em certas pessoas, um certo dom natural para isso. O sorriso de orgulho da sua sogrinha querida mostra isso.

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